Praticando o judaísmo no Iraque e no Afeganistão


Por Fernando Bisker – Miami -EUA

Um assunto não muito conhecido é o fato de centenas de judeus servirem ao exército americano na função de rabinos, dando suporte e apoio espiritual aos soldados judeus que estão em campo de batalha.

Cerimônia do Memorial Day no Afeganistão

Acreditem ou não, mas nas bases americanas no Iraque e Afeganistão se constroem Sucot, distribuem matzot e vinho kasher para a realização do seder de Pessach, os soldados têm horários para estudar a Torá e realizar suas rezas. Fazem jantares festivos em Purim, e dentro do possível, é servida comida kasher para os soldados que assim requisitarem.

A realização da Havdalá (ao encerrar o Shabat) feito com velas e suco de uva kasher em Cabul

A mensagem é curta: Quando existe a vontade e orgulho de sermos judeus, não importa onde, os obstáculos passam a ser desafios e as dificuldades passam a ser estímulo de fazer o correto.

Reza no Afeganistão – Minyan (quórum de 10 soldados)

Celebração de Sucot em uma base americana no Iraque

Lembro-me quando tinha meus 18 anos, uns amigos da escola resolveram se divertir e trabalhar como figurantes nas novelas da TV Globo. Fui junto. Na época eu ainda não cumpria kashrut, mas havia recém decidido que não comeria mais presunto.

A novela, para os quase quarentões era Despedida de Solteiro, e havia uma cena onde estávamos sentados em um restaurante em uma mesa ao lado dos artistas, e tínhamos que ficar conversando (sem emitir som) e gesticulando. Acima da gente uns microfones enormes, onde qualquer barulho de mosca poderia ser captado. A ordem era atuar como se estivéssemos conversando, e ao chegar a comida, comer. Cada minuto de gravação custa bastante à Rede Globo, e cada tomada de gravação requer esforço e trabalho de muita gente. Erros podem existir, mas não vindo dos figurantes. Não se pode usar roupa com marca, não se pode olhar para os artistas e nem para a câmera, e muitas outras regras que são ensinadas pelos diretores de figuração.

O pior veio a acontecer: Chegou o meu sanduíche, um misto quente, quentinho, saído do forno, tudo na maior realidade possível. O que não era real seria chegar um sanduíche quentinho e o figurante não

Mas não podia haver erro, não importava a pressão, não iria comer aquele sanduíche. Passaram alguns segundos e a responsável do elenco me fez um gesto para comer o sanduíche. Não comi. Passaram mais alguns segundos e o diretor gritou: Para a gravação: “Ô figurante !!! Por que você não come teu sanduíche?? Tem que agir naturalmente! Você está atrapalhando a filmagem e teremos que repetir todo o diálogo por tua culpa!

Eu respondi, com orgulho: Sinto muito diretor, mas como judeu, não posso comer presunto. Foi um silêncio total. Todos esperando a reação do diretor. Passaram uns segundos e ele disse:

Desculpa, não sabia que você era judeu. Tragam um milk-shake para o figurante. E a cena continuou normalmente.

Neste dia cheguei a uma conclusão: Não importa onde você está, com quem você está, e a pressão que você se encontra, se existe a convicção e a vontade de fazer o que é o correto, nesta hora, a superação nos faz ser uma pessoa melhor e, logicamente, um judeu mais conectado com nossas raízes.

enviado via e-mail por Rua Judaica 04/06/2012