Kefa e os Goyim


Kefa, na promoção de seu trabalho, visitou os crentes em Lida. Ali curou Enéias, que durante oito anos estivera de cama, com paralisia.
Kefa lhe disse:
– Eneias! Yeshua, o Messias, o está curando! Levante-se e arrume sua cama!
Todos os que viviam em Lud e Sharon o viram, e eles se voltaram para o Senhor” Atos 9:34 e 35.

Em Jope, que era perto de Lida, a este tempo Tabita – chamada Dorcas por interpretação – jazia morta. Fora uma digna talmidah de Yeshua, e sua vida se caracterizava por atos de Tzedakah e bondade para com os pobres e sofredores, e pelo zelo na causa da verdade. Sua morte foi uma grande perda; a congregação infante não podia dispensar seus nobres esforços. Quando os crentes ouviram das curas maravilhosas operadas por Kefa em Lida, desejaram grandemente que ele viesse a Jope. Mensageiros foram enviados a ele, solicitando sua presença ali.
“Kefa levantou-se e foi com eles. Quando ele chegou, foi levado ao quarto no andar superior. Todas as viúvas rodearam, chorando e mostrando-lhe os vestidos e casacos que Tavita lhes havia feito enquanto estava com elas.” Atos 9:39.

Kefa determinou que os amigos em pranto se retirassem do quarto. Então ajoelhou-se e orou fervorosamente a D’us para que restituísse vida e saúde ao corpo inanimado de Dorcas; “Kefa, porém, colocou todas elas para fora do quarto, ajoelhou-se e orou. Então, voltando-se para o corpo, disse:
– Tavita levante-se!”
Ela abriu os olhos e, vendo Kefa, sentou-se. Ele lhe ofereceu a mão e ajudou–a pôr-se em pé; então chamou os crentes e as viúvas e apresentou-a viva. Atos 9:40 e 41.
O Centurião
“Havia em Cesárea um homem chamado Cornélio, um oficial do exército romano do regimento chamado Italiano. Ele era um homem devoto, um “temente a D’us”, bem como toda a sua casa; ele contribuía de forma generosa para ajudar os judeus pobres e orava com regularidade a D’us.” Atos 10:1 e 2.
Embora Cornélio fosse romano, ele se tornara familiarizado com o verdadeiro D’us e renunciara à idolatria. Era obediente à vontade de D’us e O adorava com sincero coração. Não se havia associado com os judeus, porém reconhecia e obedecia à lei moral. Não havia sido circuncidado, nem tomado parte no sistema sacrifical; era portanto, tido pelos judeus como imundo. Ele, contudo, sustentava a causa judaica por liberais doações, sendo conhecido longe e perto por seus atos de caridade e beneficência. Sua vida justa lhe concedera boa reputação tanto entre judeus, como gentios.
Cornélio não tinha uma fé inteligente no Messias, embora cresse nas profecias e estivesse aguardando o Messias por vir. Mediante seu amor e obediência a D’us, foi trazido para perto dEle, e preparado para receber o Salvador quando Ele lhe fosse revelado. A condenação vem pela rejeição da luz concedida. O centurião era um homem de nobre estirpe e ocupava uma posição de elevada confiança e honra; mas estas circunstâncias não lograram subverter os nobres atributos de seu caráter. A verdadeira bondade e a grandeza unidas fizeram dele um homem de dignidade moral. Sua influência era benéfica para todos com os quais entrava em contato.
Cria no único D’us, Criador dos Céus e da Terra. Reverenciava-O, reconhecia Sua autoridade e procurava Seu conselho em todos os negócios da vida. Era fiel em seus deveres domésticos, bem como em suas responsabilidades oficiais, e construíra um altar a D’us em seu lar. Não ousava efetuar seus planos e suportar o fardo de suas pesadas responsabilidades, sem a ajuda de Deus; por isso, orava bastante e fervorosamente por esta ajuda. A fé assinalava todas as suas obras, e Deus o considerava pela pureza de suas ações e liberalidade, e dele Se aproximou em palavra e Espírito.
O Anjo Visita Cornélio
Enquanto Cornélio estava orando, D’us lhe enviou um mensageiro celestial, que se lhe dirigiu pelo nome. O centurião ficou temeroso, contudo sabia que o anjo fora enviado por D’us para instruí-lo, e disse: “Cornélio olhou para o anjo, atemorizado.
– Que é isso, senhor?”, ele perguntou.
– “Suas orações”, respondeu o anjo, “ e seus atos de caridade chegaram a presença de D’us, de modo que ele o tem em mente. Agora, mande alguns homens a Yafo para trazerem um homem de nome Shim’on, também chamado Kefa. Ele está na casa de Shim’on, o curtidor de couro, perto do mar”.” Atos 10:4-6.
Aqui, outra vez, D’us mostra Sua consideração pelo ministério dos talmidim e por Sua congregação organizada. Seu anjo não seria aquele que contaria a Cornélio a história do madeiro. Um homem, sujeito às fraquezas humanas e tentações como ele próprio, devia instruí-lo quanto ao que foi morto no madeiro. O mensageiro celestial foi enviado com o expresso propósito de colocar Cornélio em associação com o talmidim de D’us, que lhe ensinaria como ele e sua casa podiam ser salvos.
Cornélio alegremente obedeceu à mensagem, e despachou mensageiros imediatamente à procura de Kefa, de acordo com as instruções do anjo. As minúcias destas informações, nas quais se mencionava até a ocupação do homem de quem Kefa partilhava o lar, mostram que o Céu está bem informado da história e dos negócios dos homens em quaisquer condições de vida. D’us está familiarizado com a ocupação diária do humilde operário, bem como da do rei sobre o trono. A avareza, a crueldade, os crimes secretos e o egoísmo dos homens são dEle conhecidos, bem como os seus bons atos, a caridade, a liberalidade e a bondade. Nada é oculto de D’us.

A Visão de Kefa

Imediatamente após esta entrevista com Cornélio veio o anjo a Kefa, que, enfraquecido e faminto devido à viagem, estava orando no terraço da casa. Enquanto orava foi-lhe mostrada uma visão:
“No qual viu o céu aberto, e algo parecido com um grande lençol estava sendo baixado à terra pelos quatro cantos. Nele havia todas as espécies de animais quadrúpedes, criaturas rastejantes e aves ariscas. Então uma voz lhe disse “Levanta-te, Kefa; mate e coma. Mas Kefa disse: “não, senhor!
– De jeito nenhum! Jamais comi algo impuro ou treif!

A voz lhe falou pela segunda vez;
– Pare de tratar como impuro ao que Deus purificou”.
Isso aconteceu três vezes, e em seguida o lenço foi levado de volta ao céu.” Atos 10:11-16.
Aqui podemos perceber a operação do plano de D’us para pôr a máquina em movimento, pela qual Sua vontade pode ser feita na Terra como é feita no Céu. Kefa não tinha ainda pregado aos goyim. Muitos deles tinham sido interessados ouvintes das verdades que ele ensinava; porém, o muro de separação, que a morte de Yeshua havia posto abaixo, ainda existia na mente dos talmidim, e excluíam os goyim dos privilégios da Mensagem. Os judeus gregos tinham recebido a obra dos talmidim e muitos deles corresponderam àqueles esforços aceitando a fé em Yeshua; mas com Cornélio ia ser a primeira de importância entre os goyim.
Pela visão do lençol e seu conteúdo, baixado do céu, Kefa devia ser despido de seu apegado preconceito contra os goyim; e entender que, mediante o Messias, todas as nações seriam participantes das bênçãos e privilégios dos judeus, e seriam assim igualmente beneficiadas como eles. Alguns têm afirmado que esta visão significa que D’us removeu Sua proibição do uso de carne de animais que foram primeiramente chamados imundos; e que, por causa disso, a carne de porco servia para alimento. Esta é uma interpretação estreita e totalmente errônea, e plenamente refutada no sentido escriturístico da visão e suas consequências.
A visão de toda sorte de animais vivos, contidos no lençol, e aos quais foi ordenado a Kefa matar e comer, sendo-lhe assegurado que o que D’us purificou não devia por ele ser chamado comum ou imundo, era simplesmente uma ilustração que apresentava a sua mente a posição real dos goyim – que pela morte de Yeshua eles foram feitos co-herdeiros com o Israel de D’us. Isso serviu a Kefa tanto como reprovação como de instrução. Seu trabalho tinha até então se confinado inteiramente aos judeus; tinha ele olhado para os goyim como uma raça imunda, e excluída das promessas de D’us. Sua mente estava agora sendo levada a compreender o alcance mundial do plano de D’us.
Enquanto ponderava sobre a visão, esta lhe foi explicada. “Kefa ainda estava refletindo profundamente sobre o significado da visão que tivera, quando os homens enviados por Cornélio, tendo perguntado onde era a casa de Shim’on, pararam junto ao portão e chamaram, perguntado se Shim’on conhecido por Kefa, estava hospedado ali. Enquanto a mente de Kefa ainda estava ocupada com a visão, o Espírito lhe disse:
– Três homens estão procurando por você. Levante-se, desça, e não receie em ir com eles, porque eu mesmo os enviei”.” Atos 10:17-20.
Para Kefa, essa era uma ordem difícil; mas ele não ousava agir de acordo com seus próprios sentimentos, e por isso desceu de seu aposento e recebeu os mensageiros enviados a ele por Cornélio.
Estes comunicaram sua singular incumbência ao talmidim e, de acordo com a instrução que recebera de D’us, concordou em acompanhá-los na manhã seguinte. Hospedou-os cortesmente naquela noite e de manhã partiu com eles para Cesárea, acompanhado por seis de seus irmãos, que deviam ser testemunhas de tudo quanto iria dizer ou fazer enquanto estivesse visitando os goyim; pois sabia que seria chamado a dar contas de uma violação tão direta da fé e dos ensinos judaicos.
Passaram-se quase dois dias antes que a jornada tivesse terminado e Cornélio tivesse o feliz privilégio de abrir suas portas a um ministro do evangelho que, de acordo com o que D’us afirmara, devia ensinar-lhe e a sua casa como podiam salvar-se. Enquanto os mensageiros desempenhavam sua incumbência, o centurião já havia reunido tantos quantos fora possível de seus parentes, a fim de que eles, como ele próprio, fossem instruídos na verdade. Quando Kefa chegou, um grande número estava reunido, esperando ansiosamente para ouvir suas palavras.

A Visita a Cornélio

Entrando Kefa na casa do goyim, Cornélio não o saudou como a um visitante comum, mas como a alguém honrado pelo Céu, a ele enviado por D’us. É costume oriental curvar-se perante um príncipe ou qualquer alto dignitário, e curvarem-se as crianças perante seus pais, que são honrados com posições de confiança. Mas Cornélio, tomado de reverência pelo talmidim enviado por D’us, caiu aos seus pés e o adorou.
Kefa foi presa de horror por este ato do centurião, e levantou-o, dizendo:
– “Levante-se! Eu sou apenas um homem.”.” Atos 10:26.

Começou a falar com ele de modo familiar, a fim de remover o senso de respeito e extrema reverência, com que o centurião o considerava.
Tivesse sido Kefa investido com a autoridade e posição concedidas a ele pela Igreja Católica Romana, teria estimulado, ao invés de reprimir a veneração de Cornélio. Os assim chamados sucessores de Kefa requerem que reis e imperadores se curvem a seus pés, porém o próprio Kefa declarou ser apenas um homem falível, sujeito a erro.
Kefa falou a Cornélio e aos que estavam reunidos em sua casa, concernente ao costume dos judeus; que lhes era considerado ilícito misturarem-se socialmente com os goyim, pois implicava em contaminação cerimonial. Isto não era proibido pela lei de D’us, mas a tradição dos homens havia feito disso um costume obrigatório. “Ele lhes disse:
– Vocês têm conhecimento de que para um judeu ter uma associação menos formal com alguém que pertence a outro povo, ou mesmo visita-lo, é algo que não de ser feito. Entretanto, D’us me mostrou que não devo chamar nenhuma pessoa de vulgar ou impura, por isso, quando fui chamado, vim sem levantar nenhuma objeção. Diga-me, então, porque você mandou me procurar?”. Atos 10:28 e 29.
Imediatamente Cornélio relatou sua experiência, e as palavras do anjo que lhe havia aparecido em visão. Concluindo, disse:
“Assim, mandei busca-lo imediatamente, e você foi gentil o suficiente para vir. Agora todos nós estamos aqui pana presença de D’us para ouvir todas as coisas que o Senhor lhe mandou nos dizer”.
Então Kefa se dirigiu a eles:
– Agora eu entendo que verdadeiramente D’us é imparcial; todos os que o temem e fazem o que é certo lhe são aceitáveis, sem importar a qual povo pertence.” Atos 10:33-35.
Embora D’us tivesse favorecido os judeus sobre todas as outras nações, ainda assim, rejeitando a luz e não vivendo segundo sua profissão, não seriam mais exaltados em Sua estima do que as demais nações. Aqueles que, entre os goyim, à semelhança de Cornélio, temessem a D’us e operassem a justiça, vivendo segundo a luz que lhes foi concedida, seriam bondosamente considerados por D’us, e suas sinceras práticas seriam aceitas.
Contudo, a fé e a justiça de Cornélio não seriam perfeitas sem o conhecimento do Messias; por isso, D’us lhe enviou luz e conhecimento para posterior desenvolvimento de seu justo caráter.
Muitos recusam receber a luz que a providência de D’us lhes envia, e como desculpa por assim fazer, citam as palavras de Kefa a Cornélio e seus amigos: “todos os que temem e fazem o que é certo lhe são aceitáveis, sem importar a qual povo pertence.” Atos 10:35.
Sustentam que não tem importância o que os homens creiam, uma vez que suas obras são boas. Tais pessoas estão enganadas; a fé e as obras devem estar unidas. Eles devem progredir com a luz que lhes é dada. Se D’us os coloca em associação com Seus servos que receberam nova verdade, confirmada pela Palavra de D’us, devem aceitá-la com alegria. A verdade é progressiva e ascendente. Por outro lado, os que clamam que apenas sua fé pode salvá-los estão confiando em um vínculo frágil, pois a fé é robustecida e tornada perfeita somente pelas obras.

Os Goyim Recebem o Ruach HaKodesh

Kefa anunciou Yeshua ao grupo de atentos ouvintes; Sua vida, ministério, milagres, traição, morte no madeiro, ressurreição e ascensão, e Seu trabalho no Céu, como Representante e Advogado do homem, intercedendo em favor dos pecadores. Enquanto o talmidim falava, seu coração foi inundado do Espírito da verdade de D’us, a qual ele anunciava ao povo.

Seus ouvintes estavam atraídos pelos ensinos que ouviam, pois seus corações haviam sido preparados para receber a verdade. O talmidim foi interrompido pela descida do Ruach HaKodesh, como foi manifestado no Dia de Shavuot.
“A totalidade dos crentes do grupo da circuncisão que acompanhavam Kefa ficou admirada de que o dom do Ruach HaKodesh também foi derramado sobre os goyim, porque os ouviu falar em línguas e louvar a D’us a resposta de Kefa foi a seguinte:
– Alguém é capaz de proibir estas pessoas de serem imersas na água? Além do mais, eles receberam o Ruach HaKodesh da mesma forma que nós!
E ele ordenou que fossem imersos no nome de Yeshua, o Messias. A seguir, eles pediram a Kefa que ficasse mais alguns dias com eles. .” Atos 10:45-48.
O derramamento do Ruach HaKodesh sobre os goyim não foi o equivalente a mikvê. Os passos requeridos na teshuvá, em todos os casos são, fé, arrependimento e imersão. Desse modo a verdadeira congregação está unificada em um Adonai, uma fé e um mikvê. Temperamentos diversos são modificados pela graça do Ruach HaKodesh, e os mesmos princípios distintivos regulam a vida de todos. Kefa cedeu às súplicas dos crentes goyim, e permaneceu com eles por algum tempo, pregando a Yeshua a todos os goyim das proximidades.
Quando os irmãos na Judéia ouviram que Kefa tinha pregado aos gentios, e que se havia encontrado com eles e comido em suas casas, ficaram surpresos e ofendidos por tão estranho procedimento de sua parte. Temiam que tal conduta, que lhes parecia presunçosa, tendesse a contradizer seus próprios ensinamentos. Tão logo Kefa os visitou, eles o receberam com severa censura, dizendo:
– “Você entrou na casa de homens incircuncisos e até mesmo comeu com eles!.” Atos 11:3…
Então Kefa, polidamente, apresentou todo o assunto perante eles. Relatou sua experiência com respeito à visão, e alegou que isso o advertia a não mais observar a distinção cerimonial da circuncisão e incircuncisão, bem como a não considerar os goyim imundos, pois D’us não faz acepção de pessoas.
Informou-lhes da ordem de D’us para ir aos goyim, a vinda dos mensageiros, sua viagem a Cesárea, e o encontro com Cornélio e o grupo reunido em sua casa. Sua precaução foi manifestada a seus irmãos pelo fato de, embora ordenado por D’us para ir à casa de um goyim, ter tomado consigo seis dos talmidim então presentes, como testemunhas de tudo quanto dissesse ou fizesse ali. Tornou a contar a substância de sua entrevista com Cornélio, na qual este lhe contara a visão, pela qual foi instruído a enviar mensageiros a Jope a fim de trazer Kefa, para que este lhe dissesse as palavras, mediante as quais ele e toda sua casa pudessem ser salvos. Fonte: adaptado de Ellen Gold White, História da Redenção, 282 a 290