Aprofundamento do Tema Apocaliptico


O Mashiach é o centro da Brit Hadashá. Sua vida, serviço, morte e ressurreição ocupam cada página destes escritos. A certeza histórica de sua existência é a base da certeza de seu retorno, sendo este o fundamento da esperança e das boas novas da Kehilá dos primeiros seguidores de Yeshua.
O livro do Apocalipse/Revelação cumpre um papel essencial na consolidação das esperanças e identidades
múltiplas da kehilá, afirmando que, como outrora afirmado pelo Tanach e também na literatura apocalíptica do período do silêncio divino, o Eterno segue direcionando a História e
protegendo Seu povo, até o fim dos dias (Acharit Hayamim), o olam habá. O texto de abertura
do livro afirma que ele é a revelação que D’us deu a Yeshua, o Messias, para que ele pudesse mostrar a seus servos o que deve acontecer no futuro. Ou seja, nada há que temer.
O judaísmo do período do segundo Templo produziu um gama significativa de material literário. Além dos 27 Livros da Brit Hadashá, temos ainda os escritos de Josefo, Filo, os Manuscritos do Mar Morto.

manuscrito livro de Isaías

Os Manuscritos de Nag Hamadi, a Hermética, os primórdios da Mishná, Talmud, 13 documentos chamados livros apócrifos e outros fragmentos como o manuscrito do Mago judeu. Esta prolixidade na escrita, demonstra que a imaginação judaica estava fervilhando naquele momento, em grande medida causada pela repetição do jugo da servidão,
sob o império romano, mas também pela expectativa de libertação e estabelecimento do reino
Messiânico.
É neste contexto teológico, social e político, que surge a literatura apocalíptica, um gênero literário que busca retirar os olhos da lama do presente, ainda que os pés lá permaneçam.
Neste sentido, o gênero não é de predição, mas de proclamação. O objetivo na literatura apocalíptica
não é o futuro per si, mas moldar a incerteza do presente pela certeza do futuro.
O Livro do Apocalipse/Revelação, cujo nome grego, é exatamente Apokalypsis (αποκάλυψις), é um exemplo
preciso desta característica premente do gênero. Assim como Daniel, seu objetivo é fortalecer o Povo que sofria com a certeza de que o sofrimento era passageiro e que o Eterno ainda dominava os assuntos do mundo. Os sofrimentos e incertezas fazem parte da vida enquanto
durar a grande guerra descrita no capítulo 12.
De fato, o tema central do Livro Revelação é justamente a batalha que ocorre na História da redenção entre o Eterno e Seu Ungido e o dragão e seus consortes. É uma batalha que tem por objetivo e campo o Universo. O objetivo é universo, porque aquele que a vence tem poder de domínio sobre ele e o campo também é universo, porque nenhum ser em todo o universo
pode se considerar neutro nesta batalha.
No judaísmo clássico pouca atenção se deu (se alguma) a ideia de um conflito cósmico.
Ainda que se pense na existência de satan, ele é um acusador e adversário dos seres humanos, não de D’us. A tradição cabalística Isaac Luria, entretanto, mantém um conceito próximo ao da Revelação, no qual há um constante conflito entre o reino dos demônios, ou Sitra Achra e o reino de D’us(a). O papel do homem, neste conflito, é libertar as fagulhas de santidade que estão
presas no conflito, através da obediência às Mitzvot.
No Livro do Apocalipse/Revelação, como na Brit Hadashá, a figura central é o Mashiach, apresentado de
diversos modos, mas sempre com figuras retiradas do Tanach, do contexto judaico.
Na Revelação, tanto o Pai quanto ele mesmo são o Alfa e o Ômega, uma referência às letras inicial e final do alfabeto grego, correspondendo ao Alef e Tav ( א ת ) do alfabeto hebraico. Há uma discussão talmúdica interessante quanto ao significado do Alef e Tav no Tanach. Rabi Akiva entendia que o uso destas letras juntas, que no hebraico marcam o sinal do objeto direto, de fato indicavam a própria presença divina, que preenchia toda a criação e todas as palavras
da Torá. Além disto, para ele, seguindo seu mestre, Nahum de Gizmo que o Alef-Tav definiam
o Próprio Eterno(b). O Talmud Shabbat 104ª lembra também que Alef-tav são as letras que iniciam
e terminam a palavra hebraica para verdade, אֱמתֶ (emet). Além disto, os sábios perceberam
que as últimas letras das três últimas palavras do relato da criação em Bereshit 2:3, formam
a palavra emet (Bara’ Elohim La’asot) (Zohar, ad loc.). Alef-Bet, formam, portanto, como
diz o Shabbat 55a, a assinatura de D’us, contida no emet.
Yeshua é também apresentando como andando entre sete menorot, em uma clara referência
a sua função sacerdotal. Suas vestes com um cinto dourado, remetem a veste do Cohen Hagadol, em Shemot 28. Ele não apenas é o Cohen, mas também é a Oferta, descrito com no capítulo 5, como um cordeiro que foi morto, mas que vive e se torna o Leão da Tribo de Judá e cuja vitória lhe permite revelar os segredos de D’us, contidos em um livro selado por dentro
e por fora.
Ele é o Filho do Homem, o Bar Enash ( בַר֥ אנֱשָׁ֖ ), a figura escatológica vista por Daniel (Dn 7:13), a quem é dado o Reino após o julgamento dos reinos da Terra. É por isto que em 1:5, Ele é chamado de Governante dos Reinos deste mundo. O Rambam, nos capítulos 11 e 12 de seu
Hilchot Melachim, fala do Mashiach em termos bastante semelhantes, chamando-o de Rei. De
fato, a expectativa messiânica judaica é do estabelecimento de um reino Mundial, pautado na
justiça, santidade e fama do Mashiach (veja o Yalkut Shimoni, Ieshaiáhu 49:9, Rambam, Perek
Helek: Sanhedrin).
A visão da figura do Bar Enash, encontrada no verso 13 do Cap. 7, se subdivide em sete epítetos nas cartas às Kehilot, relacionados com características particulares que o Mashiach apresenta para a Kehila específica, em vista de suas necessidades espirituais. Ele não é apenas
o Rei Messiânico esperado, aguardado e anelado. Ele é o Senhor destas comunidades, e por seu conhecimento dos detalhes de sua existência, Kavaná e Kashrut, demonstra ter cuidado por cada uma. Sua admoestações, por outro lado, demonstra que Ele deseja ser o Senhor delas, como foi da Kehila do Deserto.
Ele é ainda chamado de ἀρχὴ τῆς κτίσεως τοῦ Θεοῦ (arché tes ktiseos tou Theou). Arché (ἀρχὴ) é o termo de abertura da Criação na LXX de Bereshit. A idea do termo aqui não é declarar que o Amen tenha um início, mas que Ele é o início. De fato, o uso das várias  expressões circundantes no verso 14, devem trazer à memória a posição de singularidade do Mashiach,
como o ed (Testemunha) de D’us, talvez em referência ao Shemá, que declara ser D’us o único D’us de Israel (c), e o emet que explicamos acima como um símbolo do domínio Dele sobre a criação. Desta forma, o verso 14 se transforma em uma declaração da soberania do Maschiach, um significado também do termo ἀρχὴ.
O texto hebraico do Shemá contém duas letras maiores que as demais: O Ayn de Shema’ e o Dalet de Echad, formando o termo hebraico Ed que se traduz como Testemunha. Embora estas letras sejam alargadas para evitar confusão e pronunciar heresias (Se o ayn for lido como um alef, a palavra hebraica resultante significa Talvez e se o dalet for lido como resh, o termo echad, se transforma em Achar, que significa outro.), a ideia de ligação da Testemunha Fiel com o Shemá,
declaração de Fidelidade é tentadora.
Por fim, no contexto do conflito cósmico, Ele é chamado de Mikhael, cujo significado tanto pode ser uma pergunta (Quem é igual a D’us?), como uma afirmação (Aquele que é igual a D’us). Seu uso é restrito para eventos de confronto direto com hasatan, como em Daniel 10 e 12, Judas 9 e aqui em Revelação 12. Em Daniel, Ele é o príncipe de Israel, o seu protetor, que
batalha contra os príncipes das outras nações, para permitir que sejam trazidas a Daniel as revelações contidas em seu livro.
Na literatura Judaica, Mikhael é mencionado várias vezes. Ele é o anjo que luta com Yaacov (Targ. pseudo-Jonathan to Ber. 32. 25; Pirḳe R. El. 37). Ele é o anjo que salva Yitzchak de ser sacrificado (“Yalḳ. Reubeni,” Seção “Wayera”). Ele é o inimigo maior de Samael, que segurou suas asas e tentou trazê-lo à terra, em sua queda (Pirḳe R. Eliezer 26). Abarbanel ensinou que
Ele foi o anjo que conduziu Israel pelos 40 anos do Deserto (Abarbanel sobre Ex. 23:20). Ele é também O sumo sacerdote do Céu (Zeb. 62a; compare com Men. 110a), ministrando no quarto céu, onde se encontra o santuário (mikdash) do Céu (Hag 12b). Mikhael é também identificado com Malkitzedekh no Yalḳuth Ḥadash, Seção Malakim No. 19, um identificação que é paralela a que o autor de Hebreus faz do Mashiach (Yeshua), no capítulo 7. Ele é ainda visto como Vice-
regente de D’us (Enoch, lxix. 14 et seq.) sendo sempre acompanhado da Shekhina (Shemot.
R. ii. 8). Ele está posicionado a direita do Trono de D’us (Haggadat Shema’ Yisrael, in Adolf Jellinek, Beit ha-Midrash. v. 166; Targum de Iob 25. 2; Enoch, xl. 9).
Em suma, a figura de Mikhael é de extrema importância na literatura Judaica e apresenta
semelhanças marcadas com Yeshua, conforme descrito na Brit Hadashá.
O Livro Revelação nos apresenta a certeza de que Yeshua não apenas vive, mas é Sumo-Sacerdote, e irá voltar. A Idea do retorno do Mashiach é encontrada em várias fontes judaicas, como o Shaar haguilgulim, cap. 13, do Ari e no comentároi de Rashi sobre Daniel 12, que diz: Pois nosso Rei Messias, está destinado a estar oculto após haver se revelado e será revelado novamente. Mantenhamos nossos olhos e nossa tikva (esperança) centradas no mikdash (santuário) do Céu, donde brevemente, Mikhael se levantará e a gueulá se fará presente invadindo
nosso mundo!