Quando Deus fala!


Andrew Ben Jacob –

A Bíblia declara que Deus, muitas vezes, falou ao Seu povo por meio dos profetas, por meio da Sua Palavra e por maravilhas e sinais – e, acima de tudo por meio de Seu Filho, Jesus Cristo. As mensagens dos profetas tornaram-se sinais e marcadores para predizer a vinda do Messias e a libertação do povo de Deus da opressão. Embora Deus tenha prometido repetidamente um Salvador, Israel se perdeu em sua espera e busca, e até mesmo a elite e os eruditos perderam o Messias.

Perder o Messias e o Salvador, e sair em busca de alguém que faça milagres, tornose uma tragédia na história humana. Nos dias de Jesus, os habitantes de Caná enfrentaram um desafio semelhante.

A CONDIÇÃO HUMANA

Caná é a cidade onde Jesus realizou o Seu primeiro milagre (João 2:1-11). A notícia de que Ele havia transformado água em vinho espalhou-se rapidamente e chamou a atenção para o Seu ministério. Esse sinal maravilhoso, porém, não produziu uma fé duradoura entre o povo de Caná. João (4:46-54) registra Jesus passando por essa região novamente, e havia pessoas esperando por Ele não como o Salvador, mas como um mágico, ou pelos sinais que Ele fazia. As pessoas estavam animadas por ter Esse “Fazedor de milagres” de volta à cidade. O que esperaríamos de Jesus hoje se Ele estivesse passando pela região onde moramos?

Outra ilustração: entre os que viram Jesus passar por Nazaré estava um nobre de Cafarnaum, cujo filho estava muito doente e com risco de vir a morrer. Quando Jesus olhou para a multidão, não viu pessoas famintas pela verdade, mas sim, pessoas que queriam ver outro sinal, outro milagre. Mas enquanto a multidão buscava um sinal, aquele homem procurou convencer Jesus a ir à sua casa. Para a multidão que O cercava, Jesus disse: “Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca crerão” (João 4:48).

Jesus estava falando sobre a condição espiritual daquele povo — sua preocupação era encontrar provas para a crença, em vez de exercer confiança e fé. O pecado nos fez construir egos imponentes e altares de adoração insignificantes; fez-nos desejar o tangível e renunciar ao espiritual. Muitos do povo de Caná buscavam sinais, em vez de buscarem o Salvador!

Deixe-me colocar de outra forma: Quantos sinais alguém tem que ver em sua vida para finalmente acreditar? Embora a Bíblia se constitua na revelação dos eventos designados por Deus, por meio de sinais e maravilhas, ela não para por aí. Ele mostrou aos filhos de Israel inúmeros sinais (Deuteronômio 4:34). Gideão pediu ao Senhor um sinal antes da batalha, e Ele concedeu esse sinal (Juízes 6:36–40). Os apóstolos realizaram sinais e maravilhas pelo poder do Espírito Santo (Atos 2:43; 5:12-16; 15:12). A pergunta que devemos fazer a nós mesmos é se nossa fé depende de sinais e maravilhas, ou ela aumenta mesmo na ausência de milagres e maravilhas?

Muitas vezes somos pegos em situações como essas descritas acima e também procuramos sinais e mila- gres na tomada de decisões. Muitas vezes, parecemos dizer: Senhor, dê-me um sinal se esta profissão me ajudará a crescer ou esse relacionamento me trará honras. Eu acredito que Deus fala conosco por vários meios para chamar a nossa atenção. Ele fala de muitas outras maneiras, e também de maneiras mais claras – através das Escrituras, dos líderes e conhecidos piedosos, como também por meio dos livros religiosos, bem como através da “voz mansa e delicada” da consciência e por uma variedade de outros canais.

O CHAMADO DE DEUS PARA MANTER A FÉ

Um dos maiores problemas do cristianismo é que os cristãos tentam colocar Deus em uma caixa. Aprendemos sobre Suas maneiras de agir no passado e começamos a prever o Seu próximo passo com base em Sua revelação anterior. As palavras de Isaías falam de um Deus que é criativo e que para Ele não há limites: “Pois os Meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os Meus caminhos”, declara o Senhor. Assim como os céus são mais altos do que a Terra, também os Meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os seus pensamentos” (Isaías 55:8, 9).

A Bíblia fala muito sobre como Deus é: Ele é amoroso (1 João 4:8), tardio em irar-Se e grande em benigdade (Salmo 103:8), justo em Seus caminhos (Isaías 30:18), justo e reto Ele é (Deuteronômio 32:4). Mas quando se trata de conhecer Seus caminhos, não podemos – e não devemos – tentar limitar ou prever como Deus cumprirá Seus propósitos. Embora, através do dom de profecia Deus tenha aberto a cortina e revelado aos profetas o fim dos tempos, os detalhes do cumprimento dessas profecias permanecem desconhecidos à mente humana. A debilidade de nossa condição como seres humanos significa que queremos que Deus seja como nós O compreendemos em nossa mente finita. Mas Ele, muitas vezes, faz coisas extraordinárias e inesperadas. Deus não trouxe água de uma nuvem, mas de uma rocha (Êxodo 17:6); Ele fez uma jumenta falar com Balaão (Números 22:20-39), e a maioria dos seguidores de Jesus não eram fariseus da alta classe (embora houvesse alguns), mas pessoas comuns, como pescadores, cobradores de impostos, párias da sociedade e pessoas que tinham enfermidades de todos os tipos ou eram até mesmo possuídas por demônios (Mateus 4:18–24; 9:9; 2; Marcos 12:37; 16: 9; Lucas 17:11-19).

O nobre que estava implorando a Jesus para que curasse seu filho tinha um objetivo: levar o Mestre até sua casa. Ellen White dá um tom de urgência a essa história ao afirmar que o filho desse homem estava gravemente doente e que havia uma grande possibilidade de que ele viesse a morrer enquanto o pai estava fora.1 O nobre tinha que escolher entre ficar em casa e passar os últimos momentos com seu filho moribundo, ou ir com fé até Jesus. E ele não tinha certeza de que encontraria Jesus. A narrativa pressupõe que o nobre imaginava que Jesus tinha que estar ao lado da cama do menino para garantir que o milagre acontecesse. Mas, em vez disso, Jesus realizou um milagre a longa distância.

As pessoas, durante o tempo em que Jesus aqui viveu, foram curadas de maneiras únicas e diversas. Para um cego, Ele misturou saliva com terra até formar um pouco de lama e a colocou nos olhos do homem (João 9:1-12); para um leproso, Ele o curou e depois o instruiu a oferecer o ritual prescrito pelo código deuteronômico (Marcos 1:40-45); ao paralítico no tanque de Betesda Ele pediu que se levantasse, pegasse sua cama e andasse (João 5:5-9), e a mulher com fluxo de sangue foi curada porque ela estendeu a mão com fé e tocou a borda de Seu manto (Lucas 8:43-48).

Embora possamos tentar colocar Deus em uma caixa, Jesus fez algo completamente diferente: Ele respondeu ao nobre: “Vai, teu filho vive.” Nenhum pronunciamento que chamasse a atenção, nenhum sinal externo, nenhuma declaração retórica, apenas uma instrução simples — de que ele deveria ir para casa. Com fé, o nobre viajou de Cafarnaum a Caná; com fé, ele voltou para casa. No meio do caminho, encontrou seus servos, que o saudaram com a notícia da recuperação de seu filho; e, ao perguntar sobre a hora em que foi curado, os servos responderam que havia sido na sétima hora, o mesmo momento em que Jesus pronunciou aquelas simples palavras: “Vai, o teu filho vive.” A fé foi vitoriosa!

A LINGUAGEM DO AMOR DE DEUS

Os escritores da Bíblia mantêm um tema em comum: a busca incansável de Deus para salvar a humanidade e a consciência dos enganos que espreitam o nosso caminho. Durante Seu ministério, Jesus advertiu o povo a respeito daqueles que aparecem como “lobos em pele de cordeiro” (Mateus 7:15). O profeta Jeremias advertiu sobre as pessoas que “falam de visões inventadas por eles mesmos, e que não vêm da boca do Senhor” (Jeremias 23:16); Paulo e vários outros escritores da Bíblia também advertiram a igreja a estar ciente dos falsos profetas (2 Timóteo 4:3, 4; 2 Pedro 2:1; 1 João 4:1). O inimigo é hábil em replicar e realizar vários sinais de engano (Êxodo 7:11-23; Apocalipse 13:13, 14). O ponto em que a coisa fica séria em nossa caminhada espiritual com Deus é quando perguntamos: “Estou eu buscando um sinal ou buscando o Salvador?” Sinais e maravilhas nos deixam empolgados, mas nem sempre nos convencem. Nós, como cristãos, não devemos buscar sinais e maravilhas como base para a nossa fé, mas sim, as expressões das boas novas, a revelação ou as advertências quanto ao futuro.

Embora Deus fale conosco por meio de sinais e maravilhas, é somente pela fé que devemos responder a Ele. Servimos a um Deus que é movido por atos sinceros de fé, em vez de demonstrações pomposas da glória humana. Uma oração humilde, um ato altruísta e um coração puro, que O alcança com fé, é que agradam a Deus. O próprio Jesus disse: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20:29 – ARA). Não vimos a glória da transfiguração de Cristo, como Pedro, nem tocamos Suas feridas, como Tomé, mas, pela fé, cremos que, por meio de Jesus, somos salvos. Montanhas se moverão, orações serão respondidas, milagres acontecerão quando mantivermos a fé como nossa âncora.

A fé é contagiosa: Quando o nobre chegou em casa, toda a sua casa creu (João 4:53 ). Alguns de nós podemos falar de cor todos os mandamentos e ordenanças, mas, sem fé, nosso carrinho ainda está meio vazio. Você está procurando agradar a Deus? Se sim, lembre-se destas palavras: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se torna galardoador dos que O buscam.” (Hebreus 11:6 – ARA)

Andrew Ben Jacob MA. em Teologia Cristã pelo Adventist International Institute of Advanced Studies (AIIAS), Filipinas; CPE pelo Adventist Medical Center de Manila, Filipinas) é pastor de jovens, capelão assistente e diretor associado do Geoscience and Ellen. G. White Study Center no Lowry Adventist College, Bangalore, Índia. E-mail: jacob_a@aiias.edu. NOTAS E REFERÊNCIAS

Citação Recomendada

Andrew Ben Jacob, “Quando Deus Fala,” Diálogo 34:2 (2022): 22-24

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Ellen Gould White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí: São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 1990), p. 197.